16 janeiro 2004

Li na Playboy e achei divertido!
Por Ana Kessler


<< Se é sexo que você está procurando, veio ao lugar errado. Vire a página, vá espiar a sua vizinha tomando banho, alugue Colegiais Sacaninhas na locadora. Desista. Era sexo o que eu estava procurando aqui no Rio de Janeiro e, até o momento, estou como você: acariciando as coelhinhas desta Playboy.

Alto lá, não me entenda mal. Peles lisinhas e umbiguinhos enfeitando oásis de barriguinhas saradas, para não dizer aclives de deliciosos peitos e declives de gostosas bundas, acho bonito, mas não me arrepia a nuca. Caso contrário viraria um ouriço, nesta terra de mar azul, corpos malhados e exibicionismo inerente. Tem tanta mulher bonita e homens perfeitamente esculpidos, que até o sol, quando se deita no horizonte entre o morro Dois Irmãos, despede-se devagar, para dar uma última olhadinha.

Tão logo aterrissei no Rio, gaúcha com "G" maiúsculo, advertências pipocaram por todos os lados: cariocas são abusados, malandros, têm uma lábia dos diabos. Escreveu, não leu, o pau, literalmente, comeu.

Jamais deveria dar na primeira noite para não ser taxada de fácil. Segui à risca. Estava quase criando teias de aranha quando saquei que os homens daqui estão pouco ligando para convenções. Há um descompromisso no ar, todo mundo é de todo mundo e ninguém é de ninguém. Os pudores são do tamanho dos nossos preconceitos. E conselhos só servem para minar a concorrência.

Mudando radicalmente de tática, pendurei no armário o meu conservadorismo, subi num salto agulha, colei uma justa mini-saia para provocar libidos alheias e fui para a Nuth, uma boate famosa, lá na Barra. Unhas vermelhas a postos, cabelos soltos, sorriso ensaiado, entre o tímido e o insinuante, estava pronta para manusear um arpão. Só me faltava saber o que fazer com o peixe, quando ele mordesse a minha isca. Ou eu a dele.

Não tenho preconceitos. Gosto de gordinhos, baixinhos, carecas, branquelas. Acontece que, em boates escuras e barulhentas, os mais deliciosamente avantajados tapam nosso campo de visão e a gente fica sem ver os branquelas, carecas, baixinhos, gordinhos. Uns chamam isso de seleção natural. Eu chamo de sorte, mesmo. Sentei num canto do bar e ele surgiu como uma erupção vulcânica: explodiu na minha frente. Imenso, para o alto e para os lados, chamava-se Teo. Advogado, adorava cozinhar e, sem pedir permissão, temperou-se com o meu sotaque. Descontrolado, partiu pra cima certeiro como um míssil patriot.

Tudo bem, ele foi educado: antes de grudar em mim como uma jibóia com ventosas, perguntou o meu nome. Só consegui responder depois de requisitar minha língua de volta. Assustada, não gostei nada das mãos dele percorrendo meu corpo como se fosse um scanner, na frente de todo o salão. Quando pedi discrição, me chamou de "frexca". Estou procurando sexo sim, mas não com um troglodita. Gosto de machos, não de machucados.

Dei uma volta na pista e encostei na parede com uma taça de champanhe na mão. Num segundo outro copo tocava o meu, "tin-tin", disse um moreno com sorriso hipnotizador. Pensei em ajoelhar e louvar aos céus, mas pegaria mal. "Você é tão linda que não sei nem por onde começar a elogiar." Ui!" Acertou o ponto mais frágil de uma mulher: o ouvido. Meia dúzia de palavras bonitas e somos todinhas de vocês, rapazes.

Dodi era o apelido dele. Fiquei esperando me revelar também a metragem do tríceps, mas ele não disse mais nada. Cariocas nunca se apresentam pelo nome, sempre rola um approach mais intimista. Pra quê perder tempo com supérfluos, não ? Se fosse paulistano, falaria nome, sobrenome, pretensão salarial, onde cursou o MBA... "Seu curriculum é ótimo moço, mas eu não quero te contratar. Só queria tomar um chopinho", dá vontade de dizer. Simplicidade é tudo nessas horas. Ok, olhos verdes ajudam bastante, e os do Dodi eram lindos.

"Adoro gaúchas, vocês têm gosto diferente", confessou. "É" ?. Nunca provei uma, mas ele estava dizendo, quem era eu para discordar? Falava com a língua quase encostando no lóbulo do meu ouvido. "Aqui tem muita luz, não acha?", encostou. "Acho!". Ele pegou nossos copos, soltou em uma mesa, e me arrastou para um canto mais escuro. Tão escuro que quando me dei conta estávamos no carro dele no maior amasso. O tempo voou. "Confia em mim?", perguntou. "Não", sorri. Ele riu, ligou o carro e engatou a primeira.

O elevador e a temperatura subiam. Prensada contra a parede, olhava para a mini câmera enquanto ele se saciava no meu, hum, umbigo. Ao pisar no apartamento não deu mais pra segurar. Não passamos do hall da entrada. Minha bolsa caiu no chão, ele jogou a carteira longe. Minha blusa voou pelos ares e a minha foi parar na cozinha. Pele com pele, boca com boca, língua com língua. Ondas de suor chocavam-se como uma "pororoca", meu rio encontrando o mar dele. Eu falei que nâo ia ter sexo nessa história, mas eu menti.

Aguardei ele ligar no dia seguinte, mas não ligou. Não esperava amor, só consideração. Comecei a achar difícil ser uma mulher fácil, mas não quis me aprofundar no assunto. A noite tinha sido espetacular, merecia comemoração. Coloquei um biquini e fui pra praia. Deitada na canga, quase tive uma síncope ao avistar, a dois metros de mim, o Dodi entrelaçando uma loira. Todos os alarmes de emergência soaram, levantei acampamento e saí correndo.

Foi traumático! Mas como diz uma amiga minha, Cristo é que estava certo: "Amai ao próximo". "Próóóóóximo"! Páginas são feitas para virar mesmo. >>

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