26 novembro 2007

21 novembro 2007

que belo e estranho dia pra se ter alegria!

"Como se ela não tivesse suportado sentir o que sentira, desviou subitamente o rosto e olhou uma árvore. Seu coração não bateu no peito, o coração batia oco entre o estômago e os intestinos." CL

19 novembro 2007

08 novembro 2007

deu um trago. o vento da chuva desviou a fumaça. frio na barriga na escada de aço vermelha molhada. bem estar. mal estar. sossego. inquietude.

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voltou a trabalhar.

06 novembro 2007

Não pude


Como uma não-virginiana que sou, eu nunca soube listar coisas. Sei fazer lista de afazeres inúteis e palpáveis, mas nunca consegui seguir uma à risca. Nunca entrei num supermercado e obedeci a singela listinha que a empregada me fez. Não sinto que tenho o poder de manter a prioridade das coisas, nem a pretensão de alcançar todas elas. Uma palavra entre uma linha e outra torna-se um adorno facilmente em minhas mãos.
Descobri que a lista da minha vida é um grande emaranhado de sentimentos impressos em diferentes cores, sentidos e emoções que não necessariamente têm ordem, porto de chegada, prazo ou hora para se alcançar. Junto traços de um desenho abstrato a meras impressões soltas em palavras com mais lógica do que qualquer coisa que eu consiga enumerar.
Gosto do que é lúdico, sei de tudo o que almejo e crio artifícios - nunca atalhos - que me levam até lá. Artifícios porque gosto de brincar de ir e vir no tempo, gosto da mágica de contagiar pessoas e de me deixar contagiar por elas. Os atalhos não me permitem aprofundar. Gosto do descompromisso quando é compromissado, de inventar e colorir as coisas e, assim, dar destaque a elas. Utilizo conjunções, adjetivos e preposições para tornar as palavras atemporais. Nada disso caberia numa lista. Aqui dentro é sempre história e poesia.
Quando deito e fecho os olhos minhas mãos se enchem ao tocar meu seio esquerdo. Sonho com qualquer coisa que me mantenha alimentada na manhã corrida do dia seguinte. Com as pontas dos meus dedos inverto o curso das coisas, o tom das melodias, o rosto das palavras. Transformo a surpresa de tudo o que é agora e finjo não querer saber o que há de ser.
Faço música com o silêncio, rabisco papéis em branco. Eu bem que tentei, mas não pude seguir o seu conselho. Não agora. Por ora não dá.

A melhor mulher que você já desperdiçou



Alice A. tinha peitos de índia e uma sensibilidade pernóstica de tão curiosa nos ombros morenos. Guardava o hábito lascivo de apertar os amores entre as pernas, como se pretendesse esmagá-los sobre o próprio ventre. Gostava das marcas e da expressão "roxa de paixão". Gostava de desenhar contornos com a língua e de provocações ao pé do ouvido. Gostava de sentir o peso e trepava de olhos abertos; tinha prazer em observar. Expressões, movimentos, pupilas dilatadas, pelos eriçados, contornos. O antes, o durante, o depois. Sorria. Naquela noite, deteve-se no depois. Fingiu dormir e, quando sentiu sobre o peito a outra respiração do terceiro sono, levantou. Sentada ao pé da cama com as pernas cruzadas como a de uma menina de tranças, acendeu um dos cigarros franceses que ele lhe trouxera de presente e observou. Observou com um cuidado cirúrgico cada milímetro de pele exposta sob a luz do abajur que ela tanto gostava. Guardou com cuidado o desenho das costas e o tamanho das mãos. Quis fotografá-lo; indefeso, belo. Como o achava belo. Sabia, de algum jeito, que jamais acharia alguém assim tão belo. Nem sob a luz daquele abajur, que ela adorava tanto, nem sob qualquer outra luz. Com a Polaroid dele e o cigarro pendurado na boca, imitando para si mesma uma daquelas atrizes francesas dos filmes que ele tanto admirava, fotografou. A foto que seria para sempre, enquanto ela se lembrasse, a foto mais bonita que havia feito na vida. Estava séria. Vestiu-se com o cigarro francês, que era o presente, ainda pendurado, e escreveu na parede com aquele lápis vermelho de marcenaria:
“Querido, se você quer uma mulher capaz de subir com você em um fusca verde para qualquer lugar do mundo com uma mochila e um mapa e que ouça Billie Holliday enquanto cozinha; se você quer uma mulher que escreva cartas de amor, que tire fotos de amor, que rasgue roupas de amor, que chore e grite de amor e que viva de amor. Se você quer uma mulher que não tem noção ‘do quanto’ e que por isso não tem restrições sobre quando ou onde; se você quer uma mulher que sangra, que cheira, que morde, que explode, que aguenta; uma mulher com força o bastante, vontade o bastante, coragem o bastante, imaginação o bastante, loucura o bastante, doçura o bastante, atrevimento o bastante, saliva o bastante e poesia demais; querido... se você quer uma mulher capaz de fugir pra qualquer lugar do mundo, sozinha, num fusca verde, com uma mala, uma foto e um mapa, querido, meu querido, você vai ter que me conquistar primeiro.” Apagou o cigarro, o abajur. A mala já estava pronta. Sorria.




pérola encontrada por aí