07 agosto 2005

"Não te dizer o que eu penso já é pensar em dizer"



Lembrei daquela última: da camisa listrada, calça social, cheirozíssimo, porte de homem. Um pouco assustado, confesso. Eu, febril há dias, mesmo assim fui. Olheiras do abatimento, do pré-sentimento. Febril também de saudade. Era para ser a última; eu não deixei.

Depois teve o parabéns-mais-lindo-do-mundo, o timbre tremido, o dia começando iluminado, a noite terminando calada. Poderia ser o último; eu não quis.

No mês seguinte o convite, amigos em volta, festa e tal. Tive medo de olhar. O abraço forte, a vela apagada, cama fria, sonho ruim. Deveria ser o último; não agüentei.

Daí uma seqüência de noites inventadas, fogos de artifício, palavras sussurradas, músicas cantadas, número dois. Eu queria que fosse a última; não foi.

Allegria pura, o toque da surpresa, sorriso pálido, palavras de amor. Gotículas de chuva, hipocrisia, lágrimas de coração. Medo, atração, aceitação. Pedi para que fosse a última; mas não é.

A gente sabe. É um saber com medo, e um não querer saber. É não poder querer fugir. É fingir. É música, é sonho, é tombo e tempestade. É quando se dá e não se tira. É aquilo que se tem. Não é a última, não é a primeira. É apenas o começo. É o que sei. Eu e você.

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