06 janeiro 2003

Impossível não colocar aqui uma parte de um poema do Fernando Pessoa que desde a primeira vez que ouvi alguém recitando (nada mais nada menos que Maria Bethânia!) me identifiquei e me apaixonei...
Acho que pelo menos uma vez na vida todos os seres humanos se sentem assim...

"... Não sei sentir, não sei ser humano.Não sei conviver de dentro da alma triste com os homens, meus irmãos na Terra. Não sei ser útil, mesmo sentindo ser prático, cotidiano, nítido.
Vi todas as coisas e maravilhei-me de tudo. Mas tudo ou sobrou, ou foi pouco, não sei qual, e eu sofri.
Eu vivi todas as emoções, todos os pensamentos, todos os gestos, e fiquei tão triste como se tivesse querido vivê-los e não conseguisse.
Amei e odiei como toda a gente. Mas pra toda a gente isso foi normal e instintivo. Para mim foi sempre foi a exceção, o choque a válvula, o espasmo.
Não sei se a vida é pouco ou demais para mim, não sei se sinto demais ou de menos.
Seja como for, de tão interessante que é a todos os momentos, a vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger, a dar vontade de dar gritos, de dar pulos, de ficar no chão, de sair para fora de todas as casas, de todas as lógicas,de todas as sacadas e ir ser selvagem entre árvores e esquecimentos..."

PASSAGEM DA HORAS, ÁLVARO DE CAMPOS

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