Estrela de Maio
Nestas impressões sem nexo, nem desejo de nexo, narro indiferentemente a minha autobiografia sem fatos, a minha história sem vida. São as minhas confissões, e, se nelas nada digo, é que nada tenho a dizer.
23 janeiro 2015
03 dezembro 2012
A melodia do nosso amor...
Oh nothing's gonna change my love for you
Sébastien Tellier - La Rotournelle
28 junho 2012
26 abril 2012
Frase extraída deste lindo filme.
18 julho 2011
O amor bom é facinho.
Eu suspeito que não.
Acho que somos ensinados a subestimar quem gosta de nós. Se a garota na mesa ao lado sorri em nossa direção, começamos a reparar nos seus defeitos. Se a pessoa fosse realmente bacana não me daria bola assim de graça. Se ela não resiste aos meus escassos encantos é uma mulher fácil – e mulheres fáceis não valem nada, certo? O nome disso, damas e cavalheiros, é baixa auto-estima: não entro em clube que me queira como sócio. É engraçado, mas dói.
Também somos educados para o sacrifício. Aquilo que ganhamos sem suor não tem valor. Somos uma sociedade de lutadores, não somos? Temos de nos esforçar para obter recompensas. As coisas que realmente valem a pena são obtidas à duras penas. E por aí vai. De tanto ouvir essa conversa - na escola, no esporte, no escritório - levamos seus pressupostos para a vida afetiva. Acabamos acreditando que também no terreno do afeto deveríamos ser capazes de lutar, sofrer e triunfar. Precisamos de conquistas épicas para contar no jantar de domingo. Se for fácil demais, não vale. Amor assim não tem graça, diz um amigo meu. Será mesmo?
Minha experiência sugere o contrário.
Desde a adolescência, e no transcorrer da vida adulta, todas as mulheres importantes me caíram do céu. A moça que vomitou no meu pé na festa do centro acadêmico e me levou para dormir na sala da casa dela. Casamos. A garota de olhos tristes que eu conheci na porta do cinema e meia hora depois tomava o meu sorvete. Quase casamos? A mulher cujo nome eu perguntei na lanchonete do trabalho e 24 horas depois me chamou para uma festa. A menina do interior que resolveu dançar comigo num impulso. Nenhuma delas foi seduzida, conquistada ou convencida a gostar de mim. Elas tomaram a iniciativa – ou retribuíram sem hesitar a atenção que eu dei a elas.
Toda vez que eu insisti com quem não estava interessada deu errado. Toda vez que tentei escalar o muro da indiferença foi inútil. Ou descobri que do outro lado não havia nada. Na minha experiência, amor é um território em que coragem e a iniciativa são premiadas, mas empenho, persistência e determinação nunca trouxeram resultado.
Relato essa experiência para discutir uma questão que me parece da maior gravidade: o quanto deveríamos insistir em obter a atenção de uma pessoa que não parece retribuir os nossos sentimos?
Quem está emocionalmente disponível lida com esse tipo de dilema o tempo todo. Você conhece a figura, acha bacana, liga uns dias depois e ela não atende e nem liga de volta. O que fazer? Você sai com a pessoa, acha ela o máximo, tenta um segundo encontro e ela reluta em marcar a data. Como proceder a partir daí? Você começou uma relação, está se apaixonando, mas a outra parte, um belo dia, deixa de retornar seus telefonemas. O que se faz? Você está apaixonado ou apaixonada, levou um pé na bunda e mal consegue respirar. É o caso de tentar reconquistar ou seria melhor proteger-se e ajudar o sentimento a morrer?
Todas essas situações conduzem à mesma escolha: insistir ou desistir?
Quem acha que o amor é um campo de batalha geralmente opta pela insistência. Quem acha que ele é uma ocorrência espontânea tende a escolher a desistência (embora isso pareça feio). Na prática, como não temos 100% de certeza sobre as coisas, e como não nos controlamos 100%, oscilamos entre uma e outra posição, ao sabor das circunstâncias e do tamanho do envolvimento. Mas a maioria de nós, mesmo de forma inconsciente, traça um limite para o quanto se empenhar (ou rastejar) num caso desses. Quem não tem limites sofre além da conta – e frequentemente faz papel de bobo, com resultados pífios.
Uma das minhas teorias favoritas é que mesmo que a pessoa ceda a um assédio longo e custoso a relação estará envenenada. Pela simples razão de que ninguém é esnobado por muito tempo ou de forma muito ostensiva sem desenvolver ressentimentos. E ressentimentos não se dissipam. Eles ficam e cobram um preço. Cedo ou tarde a conta chega. E o tipo de personalidade que insiste demais numa conquista pode estar movida por motivos errados: o interesse é pela pessoa ou pela dificuldade? É um caso de amor ou de amor próprio?
Ser amado de graça, por outro lado, não tem preço. É a homenagem mais bacana que uma pessoa pode nos fazer. Você está ali, na vida (no trabalho, na balada, nas férias, no churrasco, na casa do amigo) e a pessoa simplesmente gosta de você. Ou você se aproxima com uma conversa fiada e ela recebe esse gesto de braços abertos. O que pode ser melhor do que isso? O que pode ser melhor do que ser gostado por aquilo que se é – sem truques, sem jogos de sedução, sem premeditações? Neste momento eu não consigo me lembrar de nada.
IVAN MARTINS
É editor-executivo de ÉPOCA
http://revistaepoca.globo.com/
15 maio 2011
23 março 2011
Li por aí:
Para quem não goza, nenhuma explicação é possível.
12 janeiro 2011
"é assim que me sinto: amanhecendo"
“a gente finge que arruma o guarda-roupa, arruma o quarto, arruma a bagunça. tira aquele tanto de coisa que não serve, porque ocupar espaço com coisas velhas não dá. as coisas novas querem entrar, tanta coisa bonita nas lojas por aí. mas a gente nunca tira tudo. sempre as esconde aqui, esconde ali, finge para si mesmo que ainda serve. a gente sabe. que tá curta, pequeno, apertado. é que a gente queria tanto. que arrumar a bagunça da vida é como arrumar a bagunça do quarto. tirar tudo, rever roupas e sapatos, experimentar e ver o que ainda serve, jogar fora algumas coisas, outras separar para doação. isso pode servir melhor para outra pessoa. hora de deixar ir. alguém precisa mais do que você. se livrar. deixar pra trás. algumas coisas não servem mais. você sabe. porque guardar roupa velha dentro da gaveta é como ocupar o coração com alguém que não lhe serve. perda de espaço, tempo, paciência e sentimento. tem tanta gente interessante por aí querendo entrar. deixa. deixa entrar: na vida, no coração, na cabeça.”
(título e texto - sensacionais e inspiradores - caio fernando abreu) ** encontrados aqui.
17 novembro 2010
"(...) quando ela me vê, onde estiver, no banheiro, na cozinha, na aldeia, na parede do cemitério, no campo, onde eu estiver, ela me seduz. Ela me lança um olhar sensual, fecha os olhos ou seus lábios brilham e a coisa acontece. As narinas estremecem como asas de borboleta. Suspira feito um animal. Envolve a sedução em roupões coloridos, usa os elogios como envólucros da sedução; ela me faz acreditar que a) eu sou um homem fantástico, b) se por alguma razão eu não for, ela é louca por mim do mesmo jeito.”
04 novembro 2010
Eu, taurina
It's so easy to love a Taurus. As a Taurus you are a sensual creature. You notice all the little things around you that make the world a beautiful place to live - things others overlook. You will rave about the bouquet of a wine, the notes in a delicate fragrance, and the subtle ingredients in a French sauce. A Taurus knows life is to be lived to the fullest. Spending time with a Taurus is always fun and enlightening. You have so much to give, dear Taurus, and apparently someone near you understands you and is as ready as you to make a formal commitment to be with you forever.
By Susan Miller
19 outubro 2010
18 outubro 2010
Cheguei do casamento mais feliz da vida, a casa quieta, escura. A rua ainda gritava os ruídos da noite, mas dentro de casa era silêncio. Só.
Me despi do vestido que especialmente costurei para a ocasião.Tirei os grampos do cabelo, a maquiagem, me perfumei.
Ouvi novamente o silêncio, me lembrei de você. Pensei que talvez fosse bom ainda te ter por aqui, mas depois pensei que estava bom assim. Aí pensei que me acostumei com sua ausência. Ela já não dói tanto. Me acostumei com o barulho aqui dentro de mim.
O tempo é fabuloso.
Sem mais.
27 setembro 2010
22 setembro 2010
Setembro, 2007
eu descobri que te amo. claro que eu já tinha te dito isso, mas agora eu descobri que amo. de verdade.
as últimas semanas foram difíceis para mim. quis me distanciar por achar que eu conseguiria me livrar da angústia que me sufocava e percebi que uma nova angústia pairou aqui dentro. a angústia de não sentir seu cheiro, de não tocar tua pele, de fechar os olhos todas as noites sabendo que não estava ali para me olhar. a angústia de não saber por onde e com quem andava, se sonhava comigo, se sentia falta do meu beijo, do meu toque, da minha voz.
nestes dias sombrios meus sonhos foram cheios de você, do seu sorriso, da sua cara de medo que às vezes faz, da sua feição de afeto por me ter ao seu lado, do seu sorriso melódico cantando beatles. dos seus braços me envolvendo para dançar aquela música na sua cabeça, da sua cara de tesão tentando me acordar. queria sentir seu rosto colado ao meu, sua respiração quase muda morrendo de prazer na cama. nossa, que saudade de nós na cama... não pensei que fosse dificil não encarnar a namorada neurótica de todas as manhãs, não ensaboar meu pinto na hora do banho, não passar meu creme no seu rosto antes do trabalho. queria saber qual era a cor da sua gravata, se já tinha cortado o cabelo de novo, o quão estaria feliz com a vitória do são paulo e com quem estaria bebendo para comemorar. queria saber se eu estava na sua cabeça quando conversava com alguém na balada, se havia escolhido sair com aquela camiseta porque foi eu quem te deu. se chegava em casa bêbado, dirigindo, acompanhado ou não. se os dias do fim de semana eram ainda cheios de trabalho e quem procuraria para contar como foi. se estava visitando os decorados e, quando o fazia, se lembrava de nós dois. pensei no cheirinho do seu carro novo, na música que tocaria no disc man, se meus cds estavam de lado, se sentia falta do seu case na minha casa. pensei na sua camisa branca, cueca, jeans, no tenis azul, nos filmes que ficaram por aqui. no whisky que abrimos juntos, na pizza congelada que comprei para você, no presentinho que ainda não te dei.
se sua nova rotina estaria deixando para trás a nossa vidinha tão comum e especial. se seus amigos perguntavam de mim, se você dizia que tinhamos terminado. me perguntava que nova vida estaria procurando para você. se sentia vontade de beijar outro alguém, se se despiu para alguma outra mulher, se procurou alguém do passado pra curar a dor, se olhou para alguém pensando em um novo futuro para você.
se pensou em mim, com quem eu estava, que calcinha eu usava, se com alguém eu transava. se passou em frente ao meu trabalho e teve frio na barriga. quantas vezes pegou o celular para me ligar e não o fez. se contou para sua familia que estava sem mim, se releu minha carta, se procurou nossas fotos, se procurou saber de mim. pensei nisso tudo. aí pensei que te amo. pensei que quero viver com você acima de qualquer outro sentimento que possa haver em mim neste momento.
nos encontramos rapidamente duas vezes, estes encontros que a vida nos prega sem a gente entender por quê. tive frio na barriga, pensei incessantemente em você. mais dias e noites foram passando e me acostumar com o vazio passou a me incomodar. algumas lembranças fugiam, um medo de esquecer sabendo que se está esquecendo. um medo de ter de volta e não saber o que fazer. um medo da distância que se estabeleceu entre nós.
dos mundos um tanto já distintos, uma mensagem de madrugada. uma, duas, três ligações logo em seguida. sua voz dizendo que queria me ver. te esperar cinco infinitos minutos na "nossa casa'', ouvir seu carro chegando, a campainha tocando. fui até você. já não era rotina, mas era bom. você estava fantasiado, parecia um menino. seu sorriso lindo, doce. seu jeito de me olhar como mulher. te coloquei em minha casa novamente. sentamos, nos olhamos, bebemos, fumamos. cantamos, dançamos, nos sentimos. rimos muito, estavamos felizes e despreocupados. você me despiu, eu te despi loucamente. continuamos dançando nus sob a penumbra da noite, das luzes coloridas da casa, das músicas de nós dois. senti seu coração bater no meu peito, sua respiração no meu colo, seu braços em minha cintura livre, seu corpo novamente junto ao meu. nus. você não queria dormir, queria emendar o ontém e o amanhã. eu quis fazer deste o nosso infinito momento. falamos em recomeçar.
o que sinto é amor, meu amor. o que sinto é que estamos aqui de novo e que não sabemos para onde vamos. sei que te quero e sei como. sei que me quer, mas não sabe como. cada contato mostra infinitas possibilidades. não sei o dia de amanhã, nem o depois. sei que te amo, sei que agora não me engano. tudo novo. tudo novo de novo.
20 setembro 2010
(...)
A vida segue, o belo é que nós não somos descartáveis. Há alguém muito perto do outro, que olha, que observa. Faz sorrir. E há alguém que está, mesmo sem ser, como se não precisasse, imperceptível.
Tenho um jeito meio desajeitado de dizer as coisas, meio prolixo, meio cheio de curvas, um jeito tão sem precisão que me faz ter vergonha de fazê-lo. Não: decidi não sentir vergonha de nada que eu seja capaz de sentir.
E essa madrugada? Eu, sinceramente, acho que o tempo vai fazer eu me esquecer de você e você se esquecer de mim. Por isso, escrevi isso. Para deixar registrado.
Eu me sinto melhor com tua presença. Aí. Aqui. Acima das nossas cabeças.
Fique feliz, fique bem feliz, fique claro. Queira ser feliz. Te envio as melhores vibrações.
Mesmo que a gente se perca, não importa. Que tenha se transformado em passado antes de virar futuro. Mas, que seja bom o que vier: para mim, para você.
Te escrevo isso por absoluta necessidade de sinceridade. Hoje tem noite e amanhã tem sol.
- Me queira bem.
30 agosto 2010
Euforismo, Histeria. Realidade e Ficção.
Lionel Shriver em "O mundo pós-aniversário"
24 agosto 2010
19 julho 2010
Eu, Eu Mesma e Manu
Eu não tenho escrito por alguns motivos. Falta de tempo, preguiça, falta de abstração e - para finalizar - pura falta de inspiração. Ela foi passear há alguns meses atrás e agora começou a voltar. Aos poucos.
Voltei a fotografar, isso é bem bom. Voltei a baixar músicas novas, fazer playlists, me vestir de forma um pouco mais divertida. Dei um tapa aqui e ali em casa, em detalhes que quase só eu sei. Tenho conseguido repousar ao invés de me atropelar em dias e noites por aí. Tenho tido um pouco de insônia, às vezes sonhado com trabalho, mas até que tenho dormido bem. Aliás, o trabalho tem sido bem importante. Produzir dez comerciais ao mesmo tempo exigiu uma versatilidade que fez eu me sentir fodona quando precisei olhar no espelho e procurar um quê para me orgulhar. Tem a academia também, que mesmo com os dez filmes e sem a inspiração, permaneceu super presente na rotina. Tem a dispensa e a geladeira só com produtos orgânicos. Tem os cineminhas e os jantares felizes toda semana. Tem a leveza do não fazer nada por obrigação.
Tem um Eu quase egoísta que - de tanto doar ao outro, resolveu doar a si. Tem eu desenterrando Eu Mesma: meu afeto, minha coragem, os valores que guardei para mim. Ainda não sei como serão os próximos meses dentro e fora daqui, mas todo medo se dilui quando o que me importa é o agora: uma Manu em profunda transformação.
28 abril 2010
O Espelho, Guimarães Rosa
06 abril 2010
Que bonitinhos...
Strangers, waiting, up and down the boulevard
Their shadows searching in the night
Streetlight people, living just to find emotion
Hiding somewhere in the night
29 março 2010
18 fevereiro 2010
11 fevereiro 2010
ca.tar.se sf (gr kátharsis)
1 Purgação. 2 Purificação. 3 Psicol e Med Método de purificação mental que consiste em revocar à consciência os estados afetivos recalcados, para aliviar o doente dos desarranjos físicos e mentais oriundos do recalcamento.
Acredite, sinto a tamanha dor do seu desconforto com o mundo, anjo meu. E dedico esse texto - o meu preferido do Pessoa - a você, somente a você:
"Não sei sentir, não sei ser humano, não sei conviver de dentro da alma triste, com os homens, meus irmãos na Terra. Não sei ser útil, mesmo sentindo ser prático, cotidiano, nítido. Vi todas as coisas e maravilhei-me de tudo. Mas tudo ou sobrou ou foi pouco, não sei qual, e eu sofri. Eu vivi todas as emoções, todos os pensamentos, todos os gestos e fiquei tão triste como se tivesse querido vivê-los e não conseguisse. Amei e odiei como toda a gente. Mas para toda gente isso foi normal e institivo. Para mim sempre foi a exceção, o choque, a válvula, o espasmo.
Não sei se a vida é pouco ou demais para mim. Não sei se sinto demais ou de menos. Seja como for a vida, de tão interessante que é a todos os momentos, a vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger, a dar vontade de dar pulos, de ficar no chão, de sair para fora de todas as casas, de todas as lógicas, de todas as sacadas e ir ser selvagem entre árvores e esquecimentos."
08 fevereiro 2010
26 janeiro 2010
O "estar sozinho"
Não é apenas o avanço tecnológico que marcou o inicio deste milênio. As relações afetivas também estão passando por profundas transformações e revolucionando o conceito de amor. O que se busca hoje é uma relação compatível com os tempos modernos, na qual exista individualidade, respeito, alegria e prazer de estar junto, e não mais uma relação de dependência, em que um responsabiliza o outro pelo seu bem-estar.
A idéia de uma pessoa ser o remédio para nossa felicidade, que nasceu com o romantismo, está fadada a desaparecer neste início de século. O amor romântico parte da premissa de que somos uma fração e precisamos encontrar nossa outra metade para nos sentirmos completos. Muitas vezes ocorre até um processo de despersonalização que, historicamente, tem atingido mais a mulher. Ela abandona suas características, para se amalgamar ao projeto masculino. A teoria da ligação entre opostos também vem dessa raiz, o outro tem de saber fazer o que eu não sei. Se sou manso, ele deve ser agressivo, e assim por diante. Uma idéia prática de sobrevivência, e pouco romântica, por sinal. A palavra de ordem deste século é parceria. Estamos trocando o amor de necessidade, pelo amor de desejo. Eu gosto e desejo a companhia, mas não preciso, o que é muito diferente.
Com o avanço tecnológico, que exige mais tempo individual, as pessoas estão perdendo o pavor de ficar sozinhas, e aprendendo a conviver melhor consigo mesmas. Elas estão começando a perceber que se sentem fração, mas são inteiras. O outro, com o qual se estabelece um elo, também se sente uma fração. Não é príncipe ou salvador de coisa nenhuma. É apenas um companheiro de viagem. O homem é um animal que vai mudando o mundo, e depois tem de ir se reciclando, para se adaptar ao mundo que fabricou. Estamos entrando na era da individualidade, o que não tem nada a ver com egoísmo. O egoísta não tem energia própria; ele se alimenta da energia que vem do outro, seja ela financeira ou moral.
A nova forma de amor, ou mais amor, tem nova feição e significado. Visa a aproximação de dois inteiros, e não a união de duas metades. E ela só é possível para aqueles que conseguirem trabalhar sua individualidade. Quanto mais o indivíduo for competente para viver sozinho, mais preparado estará para uma boa relação afetiva. A solidão é boa, ficar sozinho não é vergonhoso. Ao contrário, dá dignidade à pessoa. As boas relações afetivas são ótimas, são muito parecidas com o ficar sozinho, ninguém exige nada de ninguém e ambos crescem. Relações de dominação e de concessões exageradas são coisas do século passado.
Cada cérebro é único. Nosso modo de pensar e agir não serve de referência para avaliar ninguém. Muitas vezes, pensamos que o outro é nossa alma gêmea e, na verdade, o que fizemos foi inventá-lo ao nosso gosto. Todas as pessoas deveriam ficar sozinhas de vez em quando para estabelecer um diálogo interno e descobrir sua força pessoal. Na solidão, o indivíduo entende que a harmonia e a paz de espírito só podem ser encontradas dentro dele mesmo, e não à partir do outro. Ao perceber isso, ele se torna menos crítico e mais compreensivo quanto às diferenças, respeitando a maneira de ser de cada um. O amor de duas pessoas inteiras é bem mais saudável. Nesse tipo de ligação, há o aconchego, o prazer da companhia e o respeito pelo ser amado. Nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem de aprender a perdoar a si mesmo...
Flávio Gikovate
20 janeiro 2010
06 janeiro 2010
2010
Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e se não ousarmos fazê-la, teremos ficado para sempre à margem de nós mesmos.
Fernando Pessoa
16 dezembro 2009
Fim de ano é época de balanço
Passei algumas semanas bem chatinha com a vida e fiz uma retrospectiva ultra-particular para conseguir enxergar as coisas menos dramáticas e, assim, mais claras. Foi muito bom para eu sair da atmosfera down, super recomendo a todos nós mortais.
É claro que a versão original (e pra lá de profunda) não será postada aqui, mas gostaria de registrar alguns acontecimentos singelos e marcantes de 2009. Este em que eu assoprei a velinha dos 28 anos. Este que foi estranho, mas com um upgrade de auto-conhecimento, aprendizado e muito, muito amor.
- As infinitas horas a dois em Parati
- Olhar a Torre Eifel pela primeira vez
- A lamentável cena de preconceito contra nós num bistrô em Paris (mas demos muita risada e terminamos a noite em um lugar infinitamente melhor)
- A gargalhada-sem-controle digna de vergonha alheia no elevador do hotel em Amsterdam
- A enxurrada de lágrimas de risada (e o videozinho que a comprova) no cofee shop verde em Amsterdam
- O "eu te amo mais"
- O show do Radiohead
- A noite de páscoa com a familia do Gui
- A Mi ficando "Anos 70"
- Eu e Enrico com cinco anos de idade na Neu
- Voltar a trabalhar com o Tharso
- Conviver diariamente com Sarah e Flavio
- O jantar de amigos regado a 12 garrafas de vinho no Pasquale
- Minha pequena-grande Beleléu
- Ganhar o Felipe de afilhado
- Conseguir o apê que tanto queríamos
- Morar com o Gui
- Nosso novo sofá
- Resgatar meus relatórios de pequena da escola
- Ver o Romeuzinho abrindo um novo bar
- "Take Five" no rádio, no lugar certo e na hora certa
- Fotografar com minha canon-xodó sem parar
- Dizer adeus aos últimos anos de sedentarismo
- Sair - e me estragar - tão menos
- "Elephant Gun" do Beirut
- Deixar a preguiça de lado e me dispor a resolver algumas pendências do passado
- Falar a verdade-doída tantas vezes
- Conseguir dizer "não" tantas outras
- Pintar minhas unhas de Marina
- Contar os dias para o Natal e Reveillon na bela e mágica Bahia (de todos os santos)
28 novembro 2009
10 novembro 2009
na real eu já fui assim, de tentar me esquivar quando o papo era colocar a mão no bolso por algum imprevisto. isso gerou algumas discussões com amigos e sempre foi muito doloroso admitir que sim, esse tipo de reação as vezes saía de mim. e como o primeiro passo é sempre admitir o erro, comecei, então, a me observar.
o primeiro ponto é que eu realmente não tinha grana. saí de casa cedo, desempregada, quando voltei a trabalhar ganhava mal pra cacete e o maior problema é que eu estava vivendo uma vida que não cabia no meu bolso, mas sim no bolso de alguns amigos meus. qualquer coisa que saía um pouco dos planos eu já não tinha como arcar e ao invés de procurar ser humilde, eu me esquivava. por orgulho. por imaturidade. por vergonha, talvez.
comecei aos poucos a viver a vida que eu male male conseguia bancar, mas trazer os pés pro chão foi o primeiro passo para eu começar a me erguer pessoal, financeira e profissionalmente. com um tempo meus amigos espontaneamente reconheceram essa mudança que (secretamente) impus a mim e passei a dormir minhas noites em paz.
hoje não suporto ver mesquinharia. ainda mais porque os 21 anos ficaram bem pra trás e pouquissimas pessoas que conheço vivem num perrengue que justifique esse tipo de postura.
com um tempo a gente aprende que dinheiro não é tudo meeesmo. ele não compra suas verdadeiras amizades, não compra um estilo de vida decente e muito menos o respeito das pessoas por você. mais cedo ou mais tarde todo mundo aprende isso, pena que as vezes é preciso quebrar a cara para isso acontecer.
05 novembro 2009
13 outubro 2009
12 outubro 2009
E a saudade do Rio só aumenta
Nossa viagem ao Rio deliciosamente programada há mais de um mês com Sarah e Leo, casal carioca mais que querido, micou por completo.
Sarah embarcou na sexta de manhã (o que não sei se foi sorte ou azar), Manu, Gui e Léo deixaram pra ir a noite. Entre atrasos e reagendamentos do vôo, a mala do Gui embarcou para algum destino desconhecido e nós não embarcamos para lugar nenhum. Nova tentativa de embarque no dia seguinte e o caos foi surpreendentemente maior do que no dia anterior. Além da mala até então não encontrada, nosso vôo sofreu uma série de adiamentos até que perdemos o jogo que iríamos no Maracanã e nossa paciência se esgotou.
Justificativa da Gol? "Estamos sem tripulação, o piloto sumiu". E tivemos que engolir isso a seco. E preencher diversos formulários de reclamação. E gastar mais e mais dinheiro com taxi. E voltar para casa pela segunda vez, sem mala, tentando colar algum sorriso no rosto. E ficar em Sampa nestes dias cinzas. E ficar procurando o que fazer. E fazer as mesmas coisas de sempre. Só pra variar.
Gol, muito obrigada por acabar com nosso feriado.