Perdoar é um mecanismo psicológico muito mais poderoso do que se imagina. Quando sentimos alguma injustiça – seja por sofrermos algo, sermos privados do que merecíamos etc – temos a tendência de buscar reparação. Como essa nem sempre é possível, cria-se uma sensação de ressentimento, raiva, amargura, desconforto associados à injustiça – o tal rancor automático. Esse estado, contudo, é bastante estressante, e se torna prejudicial ao organismo como um todo. Perdoar é um processo – e não um momento – de redução gradual dessas emoções negativas. Existem outras formas de reduzir a sensação de injustiça – vingança, condenação judicial do ofensor, crença na reparação divina, justificação da conduta do outro – mas elas não são eficazes como o perdão real. Quando de fato se perdoa, o estresse associado ao ressentimento diminui a ponto de suas consequências serem fisicamente notáveis – diversos estudos mostram redução da pressão arterial, da frequência cardíaca, da tensão muscular. Além do quê, quem perdoa experimenta maior relaxamento, mais bem estar e sensação de controle.
A decisão racional de perdoar é diferente do perdão emocional, contudo. Ao decidir perdoar, a pessoa reduz a hostilidade mas não necessariamente se livra das emoções negativas; o perdão emocional, aquele em que se abandona de fato o rancor, este sim está associado à redução do estresse e restauração das emoções positivas.
Claro que nem sempre é fácil. Mas mais do que isso, nem sempre desejamos perdoar – ficamos com aquela sensação de que, se o fizermos, estaremos saindo no prejuízo. Ok, você pode decidir guardar sua mágoa. Mas o faça consciente de que, sem a menor sombra de dúvida, quem sofre com isso é você.
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Daniel Martins de Barros
(publicado no Estadão em 20.01.15)
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