e se a gente se encontrasse depois do trabalho e se não tivesse nada programado e fizesse coisas sem pensar no dia seguinte e saísse andando pelas ruas do bairro até chegar no outro bairro e sentasse naquele bar que nunca sentamos e passasse horas bebendo e rindo e acariciando um ao outro como se ninguém observasse a nossa alegria que insiste em transbordar quando estamos a sós e que desenha com traços livres o sorriso mais bonito em mim e que brota em seu rosto o olhar mais terno que já vi e se saísse de lá a pé novamente e batesse naquela portinha que nunca batemos e dançasse nus ao som de nós dois como quando você me olhou e você me ergueu me chamando para você e pegou minhas mãos com todo o seu cuidado e me rodopiou com os pés descalços na areia cantando em meu ouvido as mais lindas melodias de toda doce vida que eu nem imaginava ter ao seu lado.
e se...
Nestas impressões sem nexo, nem desejo de nexo, narro indiferentemente a minha autobiografia sem fatos, a minha história sem vida. São as minhas confissões, e, se nelas nada digo, é que nada tenho a dizer.
18 setembro 2008
11 setembro 2008
“... pensar meu deus que porra é essa, como é que eu me meti nessa, como é que eu saio dessa, quem disse que eu quero sair dessa, esquecer isso tudo, derreter, morrer, agradecer à nossa senhora da pequena morte e dormir uma dormidinha daquelas antes de começar tudo de novo. e de novo. e de novo e de novo, até ele perceber que não há saída senão se entregar e se entregar sabendo que tudo nos espera (...)”
clarah averbuck em nossa senhora da pequena morte
*music in the air: "i'm your man" - leonard cohen
imagem: ffffound
*music in the air: "i'm your man" - leonard cohen
imagem: ffffound
04 setembro 2008
Depois de alguns anos juntos, se separaram por questões conjugais, não por ausência de amor. Enjaularam-se dentro de si, pincelando o orgulho e a decepção com cores pastéis, tons de melancolia armada e desarmada; noites geladas, manhãs frias, alma empedrada. Ele joga nela a responsabilidade de amá-lo por todo o sempre. Ela se esconde, porque o ama tanto aqui e agora que - sem ele - não enxerga um passo a frente.
Usam sua dor para compor belas e tristes melodias e mantêem entre si uma distância friamente calculada, para que a solidão - já derramada da jaula - possa por aí se espalhar, tornando o mundo mais cinza, refletindo o seu vazio. Temem um ao outro, abrem janelas e fecham portas, voltam sempre para o mesmíssimo lugar.
O dia de hoje amanheceu de olhos inchados, respiração congestionada, uma velha - mas não estranha - inquietação. As lágrimas que antes caíam em silêncio, hoje gritaram com o mesmo tom de voz de um ano atrás. Parece que o tempo congelou.
Há bem mais de doze meses duas pessoas se resistem dolorosamente. Infinita ou interrompida, triste ou feliz, essa é a história de amor que hoje me fisgou.
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