06 novembro 2007

Não pude


Como uma não-virginiana que sou, eu nunca soube listar coisas. Sei fazer lista de afazeres inúteis e palpáveis, mas nunca consegui seguir uma à risca. Nunca entrei num supermercado e obedeci a singela listinha que a empregada me fez. Não sinto que tenho o poder de manter a prioridade das coisas, nem a pretensão de alcançar todas elas. Uma palavra entre uma linha e outra torna-se um adorno facilmente em minhas mãos.
Descobri que a lista da minha vida é um grande emaranhado de sentimentos impressos em diferentes cores, sentidos e emoções que não necessariamente têm ordem, porto de chegada, prazo ou hora para se alcançar. Junto traços de um desenho abstrato a meras impressões soltas em palavras com mais lógica do que qualquer coisa que eu consiga enumerar.
Gosto do que é lúdico, sei de tudo o que almejo e crio artifícios - nunca atalhos - que me levam até lá. Artifícios porque gosto de brincar de ir e vir no tempo, gosto da mágica de contagiar pessoas e de me deixar contagiar por elas. Os atalhos não me permitem aprofundar. Gosto do descompromisso quando é compromissado, de inventar e colorir as coisas e, assim, dar destaque a elas. Utilizo conjunções, adjetivos e preposições para tornar as palavras atemporais. Nada disso caberia numa lista. Aqui dentro é sempre história e poesia.
Quando deito e fecho os olhos minhas mãos se enchem ao tocar meu seio esquerdo. Sonho com qualquer coisa que me mantenha alimentada na manhã corrida do dia seguinte. Com as pontas dos meus dedos inverto o curso das coisas, o tom das melodias, o rosto das palavras. Transformo a surpresa de tudo o que é agora e finjo não querer saber o que há de ser.
Faço música com o silêncio, rabisco papéis em branco. Eu bem que tentei, mas não pude seguir o seu conselho. Não agora. Por ora não dá.

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