Poucas vezes errei de caminho, mas é só porque os caminhos são tão tortuosos, tão sinuosos, que é difícil dizer quando terminei um e comecei outro, quando realmente escolhi ou quando fui a esmo. Na maioria das vezes, vou a esmo. Acredito demais nas minhas entranhas. Desconfio muito da minha capacidade de planejamento. Não sei o que vou estar fazendo daqui a cinco anos e chego atrasada em entrevistas de emprego (mas não me atraso para mais nada).
Odeio uniformidade, odeio unilateralidade, odeio unidireção, odeio “unis” em geral, inclusive uniões. Não acredito em uniões, para ser sincera. Acredito em andar junto. Fundir, não.
Acredito em caminhos tortos, mas não em errados. Nem em certos. Apenas espertos ou burros. Para caminho não se dá nota. Porque notas têm que partir de uma certeza absoluta e ir baixando quanto mais se afasta disso. Só que ninguém sabe de nada, ninguém tem o direito de saber mais, nem a capacidade. Ninguém entenderia porque um caminho limpo e reto me deixaria deprimida. Ninguém entende quando choro estando tudo, tudo bem.
E foda-se.
Não entendo como há gente to tipo terninho, do tipo que limpa nervosamente a boca com o guardanapo, do tipo que sonha com cavalos e seca o cabelo. Não entendo, não faz parte do meu mundo, rio de ironia (são pessoas que ainda não entenderam que vão morrer). Ou de tédio. Rio dos textos lineares. Acho graça em quem tenta fazer da literatura uma arte exata (se isso existe). Não rio de raiva (embora possa acontecer). Rio porque acho fofo. Elementar. Uma infamiliaridade com a escrita igual a que eu tenho com um pincel. Ou com um guardanapo grande.
Mas tento ao máximo respeitar. Tem gente que sabe onde vai estar daqui a um mês e realmente sabe. Eu não sei. Eu prefiro ser surpreendida no meio do caminho. Mudar meu curso, voltar, cortar caminho, ser pega pela polícia, chutar e ser presa, chorar, depois rir de tudo e vir contar. Não sei o que me fará feliz. Sei o que me faz.
Ah, chega.
Por Bia Singer
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