Ando sensível desde que fui assistir o Vôo United. Fazia tempo que não me emocionava, mas de umas semanas pra cá eu tô mais eu, mais Manu. É, eu sou sensível pra caralho. Não tô melosa, mas ando me identificando com as emoções alheias a todo momento.
Mas não era disso que eu ia falar... Era mesmo pra postar um texto da Antônia, como sempre, maravilhosa:
*(Sarinha, desta vez a ilustração não é exclusiva, mas já que o texto também não é...)
(Corpos - Sara Mello)
Entreato de um verão: o amor.
Te vejo na pista, me encosto. Te quero. Sou sua. Me enrosco. Na tua. Me leva. Contigo. Pra onde meu corpo possa ser seu território. Onde cada centímetro da sua pele sinta a presença da minha pele. Dez milhões de terminações nervosas juntas, um curto circuito. Eu e você. Percorro teu corpo com a ponta dos dedos, desbravo planícies sensoriais.
Me pega. De um jeito que seja pra sempre. Me guarda no seu coração. Veste minha barriga de Sol, vamos imaginar jardins. Usa suas mãos finas pra tocar meu rosto. Decora cada feição. Enfie seus dedos por entre o emaranhado dos meus cabelos. E puxe. De leve. Juntando seu peito ao meu. Sinta. Tudo bate pulsa mais rápido quando você está perto, aqui, em mim.
Siga o trilho da palma da minha mão e se embaralhe ao meu destino. Minha sua vida. Escrevamos nossa história a quatro mãos. Vamos dissolver fronteiras, percamos a distinção. Eu e tu, teu. Minha pele morena avança sobre tua pele jambo. Meus cachos, teus cachos. Enrolam-se. Misturam-se. Cada gota do seu suor escorre pelo meu corpo, tua regência. Faz calor. Aqui e dentro do mar é tudo uma coisa só. Outra temperatura.
Nestas impressões sem nexo, nem desejo de nexo, narro indiferentemente a minha autobiografia sem fatos, a minha história sem vida. São as minhas confissões, e, se nelas nada digo, é que nada tenho a dizer.
25 outubro 2006
17 outubro 2006
16 outubro 2006
Tua ansiedade
(ilustração: Sara Mello)
Eu já tinha te dito que essa sua ansiedade não ia te levar a nada. Essa tua mania de não fazer mistério, de acreditar que abrir-se é aflorar-se, mas para aflorar precisa regar. Não é unânime esta beleza pura dentro de ti. Essa ingenuidade carente que aperta teu coração não te permite fazer vento, nem brisa, nem mar. Já te disse – e você já prometeu – cuidar mais de si. Do teu canto, das tuas conquistas, do teu coração e da tua coragem. Prometeu em palavras ditas e escritas, em preces secretas, meros papéis rasgados em sonhos sombrios e, na verdade, estas promessas só fazem sentido para você mesma. Ninguém nunca revindicará o mal que faz a si, porque é um mal silencioso que anda te corroendo ao longo dos anos, te fazendo sentir dessa forma que não pode comunicar a ninguém, só a mim. Estou aqui, bem perto, até o fim, seja ele qual for. E que ele brote da tua mais profunda vontade.
15 outubro 2006
04 outubro 2006
se alguma possibilidade de estar em teus braços novamente me ocorreu ontém, creio que ela me trouxe allegria. bom saber que é isso que me despertas. já me apaixonei pela raiva, pela insegurança, já projetei outros olhos nos meus querendo encaixá-los dentro de visões tão claras e distintas. ja me apaixonei pela distância, pelo não amado, pelo não admirado. me apaixonei então pela incerteza, pelo ciúme que ele gerava em mim, pelas músicas que me remetiam a nós, num estar tão monótono, solitário, infantojuvenil; rico de poesia, mas ausente de cor, ainda que fosse um cinza chumbo, mas nítido aos olhos e ao coração. me apaixonei pela minha própria dor, pela minha amargura, pelo não estar em mim mesma. tive que fazer meu coração entender a tal diferença entre a paixão e projeção, entre o que se tem e o que não se acessa, e de repente, por algumas horas, voltei à estaca zero quando olhei para dentro de mim e senti allegria. foi o que eu senti. foi por você e não por mim. um brinde às sensações nobres.
(Ilustração: Sara Mello)
03 outubro 2006
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