Nestas impressões sem nexo, nem desejo de nexo, narro indiferentemente a minha autobiografia sem fatos, a minha história sem vida. São as minhas confissões, e, se nelas nada digo, é que nada tenho a dizer.
29 outubro 2004
Mereceu um post!
O que me dá maior prazer além da música é o beijo na boca. Aquele lance do beijo que é o fósforo aceso na palha seca do amor! O beijo começa tudo; é da boca que vem a relação...a primeira vez que se entra numa pessoa. Pra mim é essencial.
CAZUZA,
** ; ) Tô contigo e não abro!
27 outubro 2004
Há alguns dias, Deus – ou isso que chamamos assim, tão descuidadamente, de Deus –, enviou-me certo presente ambíguo: uma possibilidade de amor. Ou disso que chamamos, também com descuido e alguma pressa, de amor. E você sabe a que me refiro.
Antes que pudesse me assustar e, depois do susto, hesitar entre ir ou não ir, querer ou não querer – eu já estava lá dentro. E estar dentro daquilo era bom. E nos sentíamos.
Por trás do que acontecia, eu redescobria magias sem susto algum. E de repente me sentia protegido, você sabe como: a vida toda, esses pedacinhos desconexos, se armavam de outro jeito, fazendo sentido. Nada de mal me aconteceria, tinha certeza, enquanto estivesse dentro do campo magnético daquela outra pessoa. Os olhos da outra pessoa me olhavam e me reconheciam como outra pessoa, e suavemente faziam perguntas, investigavam terrenos, traçando esboços, os dois. Tateando traços difusos, vagas promessas.
Nunca mais sair do centro daquele espaço para as duras ruas anônimas. Nunca mais sair daquele colo quente que é ter uma face para outra pessoa que também tem uma face para você, no meio da tralha desimportante e sem rosto de cada dia atravancando o coração. Mas no quarto, quinto dia, um trecho obsessivo do conto de Clarice Lispector – Tentação – na cabeça estonteada de encanto: “Mas ambos estavam comprometidos. Ele, com sua natureza aprisionada. Ela, com sua infância impossível”. Cito de memória, não sei se correto. Fala no encontro de uma menina ruiva, sentada num degrau às três da tarde, com um cão basset também ruivo, que passa acorrentado. Ele pára. Os dois se olham. Cintilam, prometidos. A dona o puxa. Ele se vai. E nada acontece.
De mais a mais, eu não queria. Seria preciso forjar climas, insinuar convites, servir vinhos, acender velas, fazer caras. Para talvez ouvir não. A não ser que soprasse tanto vento que velejasse por si. Não velejou. Além disso, sem perceber, eu estava dentro da aprendizagem solitária do não-pedir. Só compreendi dias depois, quando um amigo me falou – descuidado, também – em pequenas epifanias. Miudinhas, quase pífias revelações de Deus feito jóias encravadas no dia-a-dia.
Era isso – aquela outra vida, inesperadamente misturada à minha, olhando a minha opaca vida com os mesmos olhos atentos com que eu a olhava: uma pequena epifania. Em seguida vieram o tempo, a distância, a poeira soprando. Mas eu trouxe de lá a memória de qualquer coisa macia que tem me alimentado nestes dias seguintes de ausência e fome. Sobretudo à noite, aos domingos. Recuperei um jeito de fumar olhando para trás das janelas, vendo o que ninguém veria.
Atrás das janelas, retomo esse momento de mel e sangue que Deus colocou tão rápido, e com tanta delicadeza, frente aos meus olhos há tanto tempo incapazes de ver: uma possibilidade de amor. Curvo a cabeça, agradecido. E se estendo a mão, no meio da poeira de dentro de mim, posso tocar também em outra coisa. Essa pequena epifania. Com corpo e face. Que reponho devagar, traço a traço, quando estou só e tenho medo. Sorrio, então. E quase paro de sentir fome.
CAIO FERNANDO ABREU, PEQUENAS EPIFANIAS
21 outubro 2004
Party Monster
Tentar descrever provavelmente estraga, então só tenho uma coisa a dizer: QUEM NÃO FOI NO CHEMICAL BROTHERS É VACILÃO! Foi do caraaaaaaaalho!
Depois de um curto showzaço, ir pra Love.e ouvir um funk foi o mais descolado a se fazer. Começou com o Dj Marlboro (lembra do Planeta Xuxa?), sonzeeeera tudo de bom! Mais tarde, quando me dei conta, estávamos tomados por nada mais nada menos que o funk carioca de raíz. É, euzinha! Nós, Monstritos! Com direito a Tchuchuca, Egüinha Pocotó, Tá dominado, e por aí vai... Mas quem diria, hein?!
É muita onda...
Próximo evento: 2manydjs, dia 5, 1h da manhã no Tim Festival.
; )
Mais uma dose
É claro que eu tô a fim
A noite nunca tem fim, não
Por quê a gente é assim?
CAZUUUUUZA
16 outubro 2004
It´s gone
Hoje eu acordei com sono e sem vontade de acordar
O meu amor foi embora
(...)
É eu vou pra Bahia, talvez eu volte qualquer dia...
O certo é que eu tô vivendo, eu tô tentando...
*
Hoje eu acordei com sono e sem vontade de acordar
Como pode alguém ser tão demente,
porra louca, inconsequente e ainda amar?
E ver o amor como um abraço curto pra não sufocar...
15 outubro 2004
*
Cada coisa tem um instante em que ela é
Quero apossar-me do é da coisa
Esses instantes que decorrem no ar que respiro
Em fogos de artifício eles espocam mudos no espaço
*
Quero possuir os átomos do tempo
E quero capturar o presente que pela sua própria natureza
O presente me foge
A atualidade sou eu sempre no já
*
CLARICE LISPECTOR
14 outubro 2004
07 outubro 2004
Coisas de Kelluda
INDECISÃO: é quando você sabe exatamente o que quer mas acha que deveria querer outra coisa.
06 outubro 2004
Assim... Sussa!
A tua presença entra pelos sete buracos da minha cabeça
A tua presença pelos olhos, boca, narinas e orelhas
A tua presença paralisa meu momento em que tudo começa
A tua presença desintegra, atualiza a minha presença
A tua presença envolve meu tronco, meu braços e minha pernas
A tua presença é branca, verde, vermelha, azul e amarela
A tua presença é negra
A tua presença transborda pelas portas e pelas janelas
A tua presença silencia os automóveis e as motocicletas
A tua presença se espalha no campo derrubando as cercas
A tua presença é tudo que se come, tudo que se reza
A tua presença coagula o jorro da noite sangrenta
A tua presença é a coisa mais bonita em toda natureza
A tua presença mantém sempre teso o arco da promessa
A tua presença
01 outubro 2004
Pela manhã
E o dia cinzento me pareceu azul Um azul com quê de cor-de-rosa Um rosa de tom íntimo Perfeito Que os cegos não vêem O rosa do coração |
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