Uma quinta e uma sexta um tanto carentes serviram para altas reflexões. Cereja e Pêra, atordoadas pelos mesmos motivos, dispostas a mergulhar dentro de si em busca das mais árduas respostas...
Segue algumas poucas das muitas fontes de reflexão deste últimos dias...
"Viver, como talvez morrer, é recriar-se: a vida não está aí apenas para ser suportada nem vivida, mas elaborada. Eventualmente, reprogramada. Conscientemente executada. Muitas vezes ousada." LYA LUFT
"Pensar não é apenas a ameaça de enfrentar a alma no espelho. É sair para as varandas de si mesmo e olhar em torno, e, quem sabe, respirar." LYA LUFT
"Não temos amado acima de todas as coisas. Não temos aceito o que não se entende por que não queremos passar por tolos. Temos amontoado coisas e seguranças por não termos um ao outro. Não temos nenhuma alegria que já não tenha sido catalogada. Temos construido catedrais, e ficado do lado de fora pois as catedrais que nós mesmos construimos, tememos que sejam armadilhas. Não nos temos entregues a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos. Temos procurado nos salvar mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de sermos inocentes. Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer sua contextura de ódio, de amor, de ciúme e de tantos outros contraditórios. Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar nossa vida possível. Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando estivessemos sozinhos. Temos chamado de fraqueza nosssa candura. Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo. E, a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia..." CLARICE LISPECTOR
"Todo amor temporal não teve pra mim outro gosto, senão o de lembrar o que perdi." FERNANDO PESSOA
" Eu não queria sentir a vida, nem tocar nas coisas, pela experiência do meu temperamento em contágio do mundo, porque a sensação da vida era sempre dolorosa pra mim. Mas ao evitar esse contato isolei-me, e, isolando-me, exacerbei a minha sensilbilidade já excessiva." FERNANDO PESSOA
"How I wish I didn't drink and smoke to reasons with my head. But sometimes this thick confusion grows until I cannot bear it all" DAVE MATTHEWS
" O que tenho sobretudo é cansaço, e aquele desassossego que é gêmeo do cansaço, quando este não tem outra razão senão o estar sendo." FERNANDO PESSOA
" O que eu sinto é (sem que eu queira) sentido para escrever que se sentiu. O que penso está logo em palavras, misturado com imagens que o desfazem, aberto em ritmos que são outra coisa qualquer. De tanto pensar-me já sou meus pensamentos, mas não eu." FERNANDO PESSOA
" Enveheci pelas sensações... Gastei-me gerando os pensamentos... E a minha vida passou a ser uma febre metafísica, sempre descobrindo sentido oculto nas coisas..." FERNANDO PESSOA
" O disfarce irreal da consciência serve somente para destacer aquela consiência que não disfarça" FERNANDO PESSOA
" Ter que estar aqui escrevendo isto por ser preciso à alma fazê-lo, e, mesmo isto, não poder sonhá-lo apenas, exprimi-lo sem palavras, sem consciência mesmo, por uma construção de mim próprio em música e esbatimento, de modo que me subissem as lágrimas aos olhos só de me sentir expressar-me, e eu fluísse, como um rio encantado, por lentos declives de mim próprio..." FERNANDO PESSOA
"Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura
Essa intimidade perfeita com o silêncio
Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo
- Perdoai-os! porque eles não têm culpa de ter nascido...
Resta esse antigo respeito pela noite, esse falar baixo
Essa mão que tateia antes de ter, esse medo
De ferir tocando, essa forte mão de homem
Cheia de mansidão para com tudo quanto existe.
Resta essa imobilidade, essa economia de gestos
Essa inércia cada vez maior diante do Infinito
Essa gagueira infantil de quem quer exprimir o inexprimível
Essa irredutível recusa à poesia não vivida.
Resta essa comunhão com os sons, esse sentimento
Da matéria em repouso, essa angústia da simultaneidade
Do tempo, essa lenta decomposição poética
Em busca de uma só vida, uma só morte, um só Vinicius.
Resta esse coração queimando como um círio
Numa catedral em ruínas, essa tristeza
Diante do cotidiano; ou essa súbita alegria
Ao ouvir passos na noite que se perdem sem história.
Resta essa vontade de chorar diante da beleza
Essa cólera em face da injustiça e o mal-entendido
Essa imensa piedade de si mesmo, essa imensa
Piedade de si mesmo e de sua força inútil.
Resta esse sentimento de infância subitamente desentranhado
De pequenos absurdos, essa capacidade
De rir à toa, esse ridículo desejo de ser útil
E essa coragem para comprometer-se sem necessidade.
Resta essa distração, essa disponibilidade, essa vagueza
De quem sabe que tudo já foi como será no vir-a-ser
E ao mesmo tempo essa vontade de servir, essa
Contemporaneidade com o amanhã dos que não tiveram ontem nem hoje.
Resta essa faculdade incoercível de sonhar
De transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade
De aceitá-la tal como é, e essa visão
Ampla dos acontecimentos, e essa impressionante
E desnecessária presciência, e essa memória anterior
De mundos inexistentes, e esse heroísmo
Estético, e essa pequenina luz indecifrável
A que às vezes os poetas dão o nome de esperança.
Resta esse desejo de sentir-se igual a todos
De refletir-se em olhares sem curiosidade e sem memória
Resta essa pobreza intrínseca, essa vaidade
De não querer ser príncipe senão do seu reino.
Resta esse diálogo cotidiano com a morte, essa curiosidade
Pelo momento a vir, quando, apressada
Ela virá me entreabrir a porta como uma velha amante
Mas recuará em véus ao ver-me junto ? bem-amada...
Resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto
Esse eterno levantar-se depois de cada queda
Essa busca de equilíbrio no fio da navalha
Essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo
Infantil de ter pequenas coragens." VINICIUS DE MORAES
"Resta transfigurar a realidade dentro desta incapacidade de aceitá-la" (Fala aí, Polly?!)
"O sonho acabou. Vamos encarar a realidade. Não se drogue por não ser capaz de suportar a própria dor. Nenhum lugar fará você se sentir um homem. Eu estive em todos os lugares e só me encontrei em mim mesmo." JOHN LENNON (Não foi o Paul, Alemi!)
"O que antes era moral, é estético hoje para nós... O que era social é hoje individual." FERNANDO PESSOA
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