07 julho 2006

ilustração: giulianna ronna

[Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo.]


CLARICE, CLARICE.

Procurei ouvir de olhos fechados tudo o que diziam ali, para que eu não perdesse a concentração, mas ainda sim em certos momentos me peguei pensando em coisas supérfluas como o mocinho do fim de semana. Então comecei a rezar. Pedi a Deus concentração. Pedi que Ele abrisse meu coração para aquilo que amorosamente estava sendo-me oferecido. De que adiantaria estar com a carcaça a postos naquela cadeira se meu coração não estivesse inteiramente ali? Aos poucos fui conseguindo guiar minha energia e tudo que eu ouvi começou a fazer sentido para mim. Muito sentido.

Parecia pegadinha. Uma pegadinha do bem.