30 janeiro 2004

De olhos fechados

Vou mostrando como sou
E vou sendo como posso
Jogando meu corpo no mundo
Andando por todos os cantos...


NOVOS BAIANOS

28 janeiro 2004

Deu pau

Sabia que desta vez eu não ia sair ilesa: Perdi todos meus arquivos.
Este é meu novo blog...

23 janeiro 2004

Talvez, naquele momento, eu já soubesse que era o início de toda a loucura.
A sincronia me encanta. Cega.

Um pouco de poesia

sentou-se para descansar e em breve fazia de conta que ela era uma mulher azul porque o crepúsculo mais tarde talvez fosse azul, faz de conta que fiava com fios de ouro as sensações, faz de conta que a infância era hoje e prateada de brinquedos, faz de conta que uma veia não se abrira e faz de conta que dela não estava em silêncio alvíssimo escorrendo sangue escalarte, e que ela não estivesse pálida de morte mas isso fazia de conta que estava mesmo de verdade, precisava no meio do faz de conta falar a verdade de pedra opaca para que contrastasse com o faz de conta verde-cintilante, faz de conta que amava e era amada, faz de conta que não precisava morrer de saudade, faz de conta que estava deitada na palma transparente da mão de Deus, faz de conta que vivia e não que estivesse morrendo, pois viver afinal não passava de se aproximar cada vez mais da morte, faz de conta que ela não ficava de braços caídos de perplexidade quando os fios de ouro que fiava se embaraçavam e ela não sabia desfazer o fino fio frio, faz de conta que era sábia o bastante para desfazer os nós de marinheiro que lhe atavam os pulsos, faz de conta que ela fechasse os olhos e seres amados surgissem quando abrisse os olhos úmidos de gratidão, faz de conta que tudo o que tinha não era faz de conta (...) faz de conta que ela não era lunar, faz de conta que ela não estava chorando por dentro.

UMA APRENDIZAGEM OU O LIVRO DOS PRAZERES, CLARICE LISPECTOR

18 janeiro 2004

TIM, viver sem fronteiras.

Este número está programado para não receber chamadas. Até logo.

VAITOMARNOCU

17 janeiro 2004

Salada Mista

Em Barra Grande nós éramos as Frutas, ou melhor, PÊRAS. Calma lá, eu explico. Isso faz parte de um surto chamado Bahia.

Fomos nós todas: as duas PÊRAS oficiais, a CEREJA, a CAJU e a JACA. E por falar em JACA, vale a pena contar que a princípio ela era a MORANGO, mas logo no primeiro dia constatou-se que ela enfiava não só os pés, como as mãos e a cabeça na jaca. Pronto, virou a JACA, propriamente dita. Tinha também a MAÇÃ e o TOMATE, a UVA e o namô (que legume ele era mesmo?!). Mais tarde chegou a MANGA e a louca da GOIABA, só para calibrar o time feminino.

Conhecemos o BRÓCOLIS, o BETERRABA (futuro prefeito da cidade) e a Princesa KIWI logo na balsa. Eles nos mostraram muito do que a Bahia tem de bom. Através deles conhecemos o ALFACE, o ERVILHA (Jurema), o BATATA (ai, BATATA!), o MANDIOCA, irmão do BATATA (ai, BATATA!) e a MAMÃO, ou melhor, o colar do BATATA (aaaaaai, BATATA!).

O BROCÓLIS e a PÊRA tiveram um affair, mas a PÊRA parecia estar mais ligada nos passos do belo PALMITO.

A louca da BANANA aterrissou láááá em Barra Grande e ficava vagando sozinha vampirando quem encontrava. É verdade. Mas já era de se esperar.

CAJU conheceu ABOBRINHA. Juntos formavam o casal jaca. Mas CAJU não parou por aí, depois conquistou o VAGEM (que inevitavelmente virou o ALHO) e aquele outro (quem ele era mesmo?), sei lá, o BEJÃO! E não é que essa história de misturar frutas com legumes dá certo?!

A CEREJA e uma das PÊRAS pareciam meio contidas em ceder suas graças a algum legume. CEREJA foi tão devagar, que o AIPO e o RABANETE levaram o AGRIÃO embora “antes do tempo”. Aliás essa história de RABANETE e AGRIÃO nasceu já faz tempo, mas eu conto em outra oportunidade.

Nessa altura a JACA já era também a MAGA PATALÓGICA. Essa mulher é firmeza!

Adotamos um gatinho (chama-se Herminho, por que será?!), e a PÊRA vai trazer ele pra Sampa.

A MAÇÃ e o TOMATE deixaram saudade na casa, enquanto a UVA e o namô (ainda não lembrei seu nome comestível) seguiam viagem. MAÇÃ me ensinou um pouco sobre acreditar até o último momento. Eu acreditei, mas não foi dessa vez!

A turma foi crescendo... (e eu que não gosto de andar em bando). Tinha os luais com o RÚCULA no Sol do Mutá (que pôr-do-sol é aquele???).

Conhecemos o KANI (amigo do MILHO e do JILÓ), e depois toda a turma do camping... a PITANGA e a LICHIA.

Encontramos o AIPIM, O BROTO DE FEIJÃO e turma. O CHUCHU só aparecia no auge das baladas, e não é que durante o dia a gente não o reconhecia?!

Ah, lembrei do FEIJÃO e do LENTILHA, que fizeram uma sonzeira em Taipús de Fora.

O FOGUINHO ARGENTINO sempre vagando pela cidade desacompanhado. Que desperdício... Me dá um gole desse chimarrão!

A essas alturas a JACA já era a POMBA-GIRA também! Ai, JACÃO... adoro muito!

Conhecemos também a AMORA, a ROMÃ, e a CAQUI, chiquérrimas, no passeio de barco. Tudo tããão colorido!

Mas a minha viagem já estava chegando ao fim. Cada passo na areia tinha um quê de despedida. Aquele marzão ia e voltava me chamando de volta pra Sampa. É, tenho que trabalhar.

Tudo isso não é delírio não. Ou melhor, fomos nós, naturalmente deliradas, em Barra Grande. Já deixou saudade.

É... DESAPEGO TOTAL, galera!

ADORO MUITO TUDO ISSO!

16 janeiro 2004

Li na Playboy e achei divertido!
Por Ana Kessler


<< Se é sexo que você está procurando, veio ao lugar errado. Vire a página, vá espiar a sua vizinha tomando banho, alugue Colegiais Sacaninhas na locadora. Desista. Era sexo o que eu estava procurando aqui no Rio de Janeiro e, até o momento, estou como você: acariciando as coelhinhas desta Playboy.

Alto lá, não me entenda mal. Peles lisinhas e umbiguinhos enfeitando oásis de barriguinhas saradas, para não dizer aclives de deliciosos peitos e declives de gostosas bundas, acho bonito, mas não me arrepia a nuca. Caso contrário viraria um ouriço, nesta terra de mar azul, corpos malhados e exibicionismo inerente. Tem tanta mulher bonita e homens perfeitamente esculpidos, que até o sol, quando se deita no horizonte entre o morro Dois Irmãos, despede-se devagar, para dar uma última olhadinha.

Tão logo aterrissei no Rio, gaúcha com "G" maiúsculo, advertências pipocaram por todos os lados: cariocas são abusados, malandros, têm uma lábia dos diabos. Escreveu, não leu, o pau, literalmente, comeu.

Jamais deveria dar na primeira noite para não ser taxada de fácil. Segui à risca. Estava quase criando teias de aranha quando saquei que os homens daqui estão pouco ligando para convenções. Há um descompromisso no ar, todo mundo é de todo mundo e ninguém é de ninguém. Os pudores são do tamanho dos nossos preconceitos. E conselhos só servem para minar a concorrência.

Mudando radicalmente de tática, pendurei no armário o meu conservadorismo, subi num salto agulha, colei uma justa mini-saia para provocar libidos alheias e fui para a Nuth, uma boate famosa, lá na Barra. Unhas vermelhas a postos, cabelos soltos, sorriso ensaiado, entre o tímido e o insinuante, estava pronta para manusear um arpão. Só me faltava saber o que fazer com o peixe, quando ele mordesse a minha isca. Ou eu a dele.

Não tenho preconceitos. Gosto de gordinhos, baixinhos, carecas, branquelas. Acontece que, em boates escuras e barulhentas, os mais deliciosamente avantajados tapam nosso campo de visão e a gente fica sem ver os branquelas, carecas, baixinhos, gordinhos. Uns chamam isso de seleção natural. Eu chamo de sorte, mesmo. Sentei num canto do bar e ele surgiu como uma erupção vulcânica: explodiu na minha frente. Imenso, para o alto e para os lados, chamava-se Teo. Advogado, adorava cozinhar e, sem pedir permissão, temperou-se com o meu sotaque. Descontrolado, partiu pra cima certeiro como um míssil patriot.

Tudo bem, ele foi educado: antes de grudar em mim como uma jibóia com ventosas, perguntou o meu nome. Só consegui responder depois de requisitar minha língua de volta. Assustada, não gostei nada das mãos dele percorrendo meu corpo como se fosse um scanner, na frente de todo o salão. Quando pedi discrição, me chamou de "frexca". Estou procurando sexo sim, mas não com um troglodita. Gosto de machos, não de machucados.

Dei uma volta na pista e encostei na parede com uma taça de champanhe na mão. Num segundo outro copo tocava o meu, "tin-tin", disse um moreno com sorriso hipnotizador. Pensei em ajoelhar e louvar aos céus, mas pegaria mal. "Você é tão linda que não sei nem por onde começar a elogiar." Ui!" Acertou o ponto mais frágil de uma mulher: o ouvido. Meia dúzia de palavras bonitas e somos todinhas de vocês, rapazes.

Dodi era o apelido dele. Fiquei esperando me revelar também a metragem do tríceps, mas ele não disse mais nada. Cariocas nunca se apresentam pelo nome, sempre rola um approach mais intimista. Pra quê perder tempo com supérfluos, não ? Se fosse paulistano, falaria nome, sobrenome, pretensão salarial, onde cursou o MBA... "Seu curriculum é ótimo moço, mas eu não quero te contratar. Só queria tomar um chopinho", dá vontade de dizer. Simplicidade é tudo nessas horas. Ok, olhos verdes ajudam bastante, e os do Dodi eram lindos.

"Adoro gaúchas, vocês têm gosto diferente", confessou. "É" ?. Nunca provei uma, mas ele estava dizendo, quem era eu para discordar? Falava com a língua quase encostando no lóbulo do meu ouvido. "Aqui tem muita luz, não acha?", encostou. "Acho!". Ele pegou nossos copos, soltou em uma mesa, e me arrastou para um canto mais escuro. Tão escuro que quando me dei conta estávamos no carro dele no maior amasso. O tempo voou. "Confia em mim?", perguntou. "Não", sorri. Ele riu, ligou o carro e engatou a primeira.

O elevador e a temperatura subiam. Prensada contra a parede, olhava para a mini câmera enquanto ele se saciava no meu, hum, umbigo. Ao pisar no apartamento não deu mais pra segurar. Não passamos do hall da entrada. Minha bolsa caiu no chão, ele jogou a carteira longe. Minha blusa voou pelos ares e a minha foi parar na cozinha. Pele com pele, boca com boca, língua com língua. Ondas de suor chocavam-se como uma "pororoca", meu rio encontrando o mar dele. Eu falei que nâo ia ter sexo nessa história, mas eu menti.

Aguardei ele ligar no dia seguinte, mas não ligou. Não esperava amor, só consideração. Comecei a achar difícil ser uma mulher fácil, mas não quis me aprofundar no assunto. A noite tinha sido espetacular, merecia comemoração. Coloquei um biquini e fui pra praia. Deitada na canga, quase tive uma síncope ao avistar, a dois metros de mim, o Dodi entrelaçando uma loira. Todos os alarmes de emergência soaram, levantei acampamento e saí correndo.

Foi traumático! Mas como diz uma amiga minha, Cristo é que estava certo: "Amai ao próximo". "Próóóóóximo"! Páginas são feitas para virar mesmo. >>
CUNHA
Se cercar vira hospício.
Se cobrir vira circo.